Reiki no século XXI: entre a tradição energética e a ciência moderna
- Raquel Silva
- 21 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de mai.
Bases do Reiki
Embora o sistema de Reiki como o conhecemos hoje seja uma prática relativamente recente, codificada por Mikao Usui no início do século XX, existem indicações e paralelismos significativos com práticas de cura e imposição de mãos encontradas em diversas culturas antigas ao redor do mundo.
Mikao Usui, no processo de desenvolvimento do Reiki, terá estudado e se inspirado em várias tradições espirituais e práticas de cura orientais, incluindo o Budismo, o Daoísmo e outras técnicas energéticas da sua época.
A imposição de mãos como método de cura é uma prática ancestral e amplamente difundida. Há referências a ela em textos religiosos e culturais de várias civilizações antigas. Artefactos egípcios sugerem o uso das mãos para transmitir energia curativa. O Sekhem, antiga prática egípcia de cura energética, envolvia a imposição de mãos e canalização de energia. Na Grécia Antiga, templos dedicados a Asclépio, deus da cura, utilizavam o toque e os sonhos terapêuticos como métodos de tratamento. A própria Bíblia contém numerosas referências a curas através da imposição de mãos por Jesus e os seus discípulos.
Em diversas culturas indígenas, xamãs utilizam o toque, a imposição de mãos e a manipulação de energias para restaurar a saúde e o equilíbrio espiritual. Muitas culturas antigas reconheciam a existência de uma energia vital fundamental. O seu bloqueio ou desequilíbrio era associado à doença, sendo a cura o restabelecimento do fluxo dessa energia. O conceito de Qi na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é central, com práticas como acupuntura e Qi Gong visando equilibrar esse fluxo. No Ayurveda, sistema indiano com mais de 3000 anos, fala-se do Prana como força vital, sendo equilibrado por dieta, ervas, yoga, meditação e toque terapêutico, como na terapia Marma.
Práticas meditativas e espirituais do Budismo e outras tradições orientais também envolvem o cultivo da energia interior. Embora o sistema específico de Reiki tenha surgido no Japão do século XX, a ideia de canalizar energia para cura tem raízes profundas. Mikao Usui terá estudado, entre outros, o Kiko, forma japonesa semelhante ao Qi Gong.
Assim, o Reiki pode ser entendido como uma reinterpretação moderna e sistematizada de princípios e práticas ancestrais de cura energética, adaptada ao contexto contemporâneo.
O Paradigma Científico e a Rejeição do Vitalismo
Desde o século XIX, a ciência moderna abandonou em grande parte o modelo do "vitalismo" – a ideia de que os organismos são animados por uma força vital imaterial. A biologia moderna explica a vida através de interações moleculares, celulares e sistémicas regidas por leis físicas e químicas. Nesse contexto, a "energia Reiki" não se enquadra facilmente no paradigma científico dominante, pois não há, até ao momento, evidência da sua existência mensurável.

Contudo, estudos sugerem que o Reiki pode ser eficaz na redução da dor, do stress e na melhoria do bem-estar. Uma meta-análise de 2017 (Journal of Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine) concluiu que o Reiki é superior ao placebo. Uma revisão sistemática de 2025 (Systematic Reviews) reforça essa conclusão. No entanto, outras análises destacam limitações metodológicas, amostras pequenas e a dificuldade em criar um placebo eficaz, dada a natureza subjetiva da experiência do Reiki. Alguns estudos utilizam praticantes não sintonizados como forma de "sham Reiki".
Reinterpretação da "Energia Reiki"
Para reconciliar a experiência do Reiki com uma visão científica, propõem-se várias abordagens:
Bioeletromagnetismo: O corpo humano gera campos eletromagnéticos. A imposição de mãos pode influenciar esses campos de forma subtil. Estudos sugerem que praticantes de toque terapêutico emitem campos biomagnéticos mais fortes.
Intenção e atenção: A intenção do praticante e a atenção focada influenciam o recetor por vias psicofisiológicas. A crença de ambos pode ter efeitos reais (efeito placebo).
Resposta de relaxamento: O ambiente tranquilo e o toque suave induzem relaxamento profundo, ativando o sistema parassimpático, reduzindo stress, dor e ansiedade.
Foco nos Efeitos Observáveis
A investigação científica pode focar-se nos efeitos fisiológicos e psicológicos mensuráveis (níveis de cortisol, frequência cardíaca, padrões cerebrais, etc.), mesmo sem validar uma energia vital.
Limitações da Ciência Atual
A ciência não compreende totalmente a consciência, a interação mente-corpo ou os efeitos de terapias não convencionais. A ausência de explicação científica não invalida necessariamente a experiência subjetiva ou os benefícios relatados.
Reiki: a arte secreta para convidar a felicidade
A experiência de bem-estar e relaxamento relatada por quem pratica Reiki é valiosa por si só. O efeito placebo, longe de ser desprezível, revela o poder da mente na cura. Independentemente da existência comprovada da "energia Reiki", os princípios do Reiki mantêm-se profundamente relevantes.
Os princípios do Reiki na atualidade
Formulados por Mikao Usui no início do século XX, os cinco princípios do Reiki têm hoje uma ressonância ainda mais necessária:
Só por hoje, não me irrito: Num mundo repleto de estímulos e frustração, cultivar a paciência e a não-reatividade promove bem-estar e relações saudáveis.
Só por hoje, não me preocupo: A ansiedade e o medo do futuro são constantes. Este princípio convida ao foco no presente e à confiança na nossa capacidade de lidar com o que vier.
Só por hoje, sou gentil e amável com todos os seres vivos: Encoraja a compaixão e a consciência ecológica, essenciais para uma sociedade sustentável.
Só por hoje, ganho a vida honestamente: Promove integridade, ética e responsabilidade em todas as nossas ações, não apenas no trabalho.
Só por hoje, agradeço as minhas bênçãos e sou humilde: A gratidão combate o materialismo e a comparação, fomentando contentamento e conexão.
Estes princípios não são apenas frases inspiradoras; são guias práticos para cultivar equilíbrio interno e relações saudáveis, respondendo aos desafios do século XXI com consciência, empatia e sentido ético.
Em suma
O Reiki pode atuar como catalisador para o relaxamento, redução do stress e aumento da autoconsciência — elementos reconhecidos como benéficos para a saúde. Mesmo sem explicação científica completa, a sua utilidade prática e subjetiva é reconhecida por muitos. No entanto, deve ser sempre apresentado como terapia complementar, e não como substituto de cuidados médicos baseados em evidência.
A simplicidade da filosofia e da prática do Reiki esconde uma sabedoria profunda, que o torna uma ferramenta valiosa na jornada pessoal e coletiva rumo ao bem-estar no século XXI. Ao reconhecermos a sua origem ancestral e explorarmos os seus efeitos com mente aberta e rigor científico, abrimos caminho para uma compreensão mais integrada da cura — onde tradição e ciência se podem complementar, em vez de excluir.
Bibliografia
McManus D. E. (2017). Reiki Is Better Than Placebo and Has Broad Potential as a Complementary Health Therapy. Journal of evidence-based complementary & alternative medicine, 22(4), 1051–1057. https://doi.org/10.1177/2156587217728644
Liu, K., Qin, Z., Qin, Y. et al. Effects of Reiki therapy on quality of life: a meta-analysis of randomized controlled trials. Systematic Reviews, 14, 72 (2025). https://doi.org/10.1186/s13643-025-02811-5
Nota editorial
A revisão do texto contou com o apoio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), utilizada como assistente na clarificação de ideias, revisão linguística e organização de conteúdos. As imagens foram geradas por inteligência artificial (Freepik.com) e editadas para fins ilustrativos.
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