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Silêncio, Ritmo e Confiança: o ensinamento do capítulo 23 do Dao De Jing para tempos de excesso

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • 3 de mai.
  • 5 min de leitura

Vivemos num mundo de ruído: palavras, opiniões, discursos que se atropelam. Mas o Dao convida-nos ao silêncio. À escuta do que permanece quando cessam os ventos e as chuvas — e também os pensamentos.


No capítulo 23 do Dao De Jing, o Velho Mestre mostra-nos que mesmo os fenómenos mais intensos da natureza são breves. O que é verdadeiro, não força. O que é natural, não se prolonga artificialmente. Quem se alinha com o Dao, confia no fluxo. E torna-se digno de confiança, simplesmente por ser verdadeiro.


Falar pouco está de acordo com a natureza.

Ventos fortes não duram a manhã inteira.

Chuva intensa não dura o dia inteiro.

Quem causa isso? O Céu e a Terra.

E mesmo o Céu e a Terra

não fazem com que tais coisas durem –

como poderiam os humanos conseguir?


Por isso,

quem segue o Dao, une-se ao Dao.

Quem segue a virtude (De), une-se à virtude.

Quem se perde, une-se à perda.


Quem se une ao Dao,

é acolhido pelo Dao.

Quem se une à Virtude,

é sustentado pela Virtude.

Quem se une à perda,

será tomado pela perda.


Quem não confia,

não inspira confiança.


A sabedoria do silêncio num mundo ruidoso

Hoje, a comunicação é constante, a produtividade é glorificada e o silêncio parece sinónimo de ausência. Mas e se o silêncio for, afinal, um caminho de sabedoria? O Velho Mestre convida-nos a refletir sobre moderação, impermanência e confiança — três temas profundamente relevantes para a saúde, o bem-estar e os desafios da vida moderna.


Falar pouco é natural: o valor da moderação

O capítulo começa com uma afirmação simples e desarmante:

Falar pouco está de acordo com a natureza.

Aqui, o Velho Mestre convida-nos a observar os ritmos naturais: ventos fortes não duram a manhã inteira, chuvas intensas não ocupam o dia todo. O que a natureza nos mostra é que a intensidade tem o seu tempo – e que o excesso é, por definição, insustentável.


Aplicado à vida humana, isto significa que também as nossas ações e comunicações devem respeitar ciclos e limites. Falar demasiado, agir em excesso ou procurar resultados permanentes são movimentos que rompem com o fluxo natural e criam desgaste físico, emocional e mental.


Wu Wei: ação sem esforço forçado

Este princípio liga-se ao wu wei (无为), muitas vezes mal traduzido como "não agir", mas que significa antes agir sem esforço forçado. Não se trata de passividade, mas de uma ação harmoniosa, apropriada, sem resistência nem rigidez.


Falar menos é um exemplo de wu wei: não como repressão, mas como alinhamento com o tempo certo de agir e o tempo certo de calar. Este equilíbrio é chave para a saúde emocional, para a clareza mental e para a autenticidade relacional.


Ritmos naturais e saúde integral

A comparação com os fenómenos naturais tem também um eco profundo na nossa saúde física. O corpo humano, como o cosmos, opera em ciclos: descanso e atividade, expansão e recolhimento. Quando ignoramos esses ritmos e vivemos em constante aceleração — como ventos que não cessam —, pagamos o preço em exaustão, ansiedade e desregulação dos sistemas internos.


Respeitar o silêncio, o descanso e a moderação é, por isso, uma prática de saúde integral.


Comunicação digital e o excesso de estímulos

Num mundo hiperconectado, falar pouco pode parecer contraintuitivo. Mas o Dao De Jing oferece um antídoto valioso para a sobrecarga digital. Como?


  • Reduzindo a exposição excessiva: Criar limites para o consumo de redes sociais e notícias.

  • Praticando o silêncio interior: Reservar momentos sem estímulos, cultivando a presença e a escuta de si.

  • Sendo seletivo na partilha: Nem tudo precisa ser dito ou exposto. A autenticidade não exige visibilidade constante.


Virtude, perda e confiança: o que cultivamos, atraímos

O capítulo prossegue com um conjunto de afirmações que descrevem um princípio de ressonância:

Quem se une ao Dao, é acolhido pelo Dao. Quem se une à virtude (De), é sustentado pela virtude. Quem se une à perda, será tomado pela perda.

Aqui, Laozi fala da interdependência entre o nosso estado interior e a realidade que vivemos. Se cultivamos a presença, a bondade, a moderação, essas qualidades manifestam-se à nossa volta. Mas se nos afundamos em raiva, ganância ou medo, atraímos essas mesmas forças.


O ensinamento é claro: tornamo-nos parte daquilo com que nos alinhamos. A vida, então, deixa de ser uma luta por controlar o que está fora, e passa a ser um caminho de cultivo interior.


A confiança como reflexo e raiz das relações

A última frase é particularmente reveladora:

Quem não confia, não inspira confiança.

Na prática terapêutica, nas relações humanas e na liderança, este princípio mostra-se incontornável. Quando o ser humano vive desconectado do seu centro, dominado por suspeitas ou desilusões passadas, emite essa energia — e ela afasta a abertura dos outros.


Recuperar a confiança no Dao (no fluxo da vida, na sabedoria do presente) é também recuperar a capacidade de confiar nos outros, na própria intuição e no processo. Mesmo as experiências dolorosas, quando compreendidas como parte do nosso crescimento, tornam-se catalisadoras de confiança mais madura e profunda.


Aplicações práticas no mundo moderno

Não se trata de abandonar a comunicação, mas de comunicarmos com consciência, em alinhamento com os nossos valores e com o tempo certo. Eis algumas formas de aplicar o capítulo 23 no dia a dia:

  • Desenvolver consciência digital: Reduzir o ruído informativo e consumir com intenção.

  • Cultivar espaços de silêncio: Criar pausas sem estímulos, offline, para regenerar a mente e o corpo.

  • Priorizar qualidade em vez de quantidade: Falar menos, ouvir mais, comunicar com clareza e presença.

  • Liderar com integridade: Atuar de forma coerente, e não com discursos vazios.

  • Alinhar-se com o próprio Dao: Viver de acordo com os ritmos internos e os valores essenciais.


Conclusão: o silêncio como força regeneradora

O capítulo 23 do Dao De Jing é um lembrete sereno e poderoso de que o mundo interior molda a nossa experiência exterior. Falar pouco, confiar mais, cultivar virtudes e respeitar os ritmos da vida são práticas simples, mas revolucionárias. Num mundo onde o excesso é regra, a moderação torna-se um ato de liberdade.


Confiar no Dao — dentro e fora de nós — é confiar que há sabedoria no silêncio, poder na suavidade, e verdade no que é essencial.


(Pode assistir ao resumo desta publicação aqui!)


Bibliografia

Lao Tse (2010). Tao Te King - O livro do Caminho e do Bom Caminhar. Relógio D'Água Editores [Tradução e Comentários de António Miguel de Campos].

Towler, S. (2016). Practicing the Tao Te Ching - 81 Steps in the Way. Sounds True.

Texto revisto com OpenAI: ChatGPT [https://openai.com]

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