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A arte de não se exibir - Capítulo 24 do Dao De Jing

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • há 7 dias
  • 4 min de leitura

Vivemos num tempo em que ser visto parece mais importante do que ser. Mas o Velho Mestre, há milhares de anos, já nos advertia: Tudo o que é forçado, desequilibra. Tudo o que é exibido, esvazia-se.


Este curto capítulo do Dao De Jing é um alerta contra os excessos — não só os materiais, mas sobretudo os excessos de ego, de imagem, de esforço, de competição. É uma chamada à moderação e à simplicidade, valores que nos mantêm em conexão com o fluxo natural da vida.


Quem caminha na ponta dos pés perde o equilíbrio.

Quem dá passos demasiado longos não chega longe.

Quem se exibe não brilha de verdade.

Quem é agressivo não alcança grandes feitos.

Quem se gaba não perdura.

O sábio, ao seguir o Dao, chama a tudo isto

excesso e vaidade inútil.

Por isso, evita tais atitudes.


Verso a verso, um espelho

Quem caminha na ponta dos pés perde o equilíbrio.

Quando nos esforçamos demasiado para nos destacarmos, para que nos notem, perdemos o chão. Ficar em bicos de pés pode parecer elegante por instantes, mas é insustentável. A busca constante por validação é uma forma de desequilíbrio.


Quem dá passos demasiado longos não chega longe.

Na pressa de avançar, perdemos o ritmo natural. Queremos tudo depressa: respostas, curas, reconhecimento. Mas o caminho espiritual (e qualquer outro caminho autêntico) exige constância e humildade, não pressa nem saltos.


Quem se exibe não brilha de verdade.

Mostrar é diferente de iluminar. O brilho verdadeiro é silencioso, como a luz da lua — não grita, apenas está. Exibir-se rouba-nos energia, desvia-nos do centro, alimenta a ilusão.


Quem é agressivo não alcança grandes feitos.

A força que se impõe afasta. Grandes realizações exigem colaboração, respeito, escuta. O Dao ensina a agir sem forçar, a avançar como a água: flexível e persistente.


Quem se gaba não perdura.

A vaidade dissipa-se. A verdadeira sabedoria é discreta. Quem precisa constantemente de afirmar o que fez ou o que sabe ainda não compreendeu a dimensão do silêncio.


Cultivar o Dao é evitar o desperdício

Laozi chama a estas atitudes "consumo excessivo e atividade inútil". E quando observamos a nossa vida com atenção, podemos reconhecer esses comportamentos nos hábitos modernos:

– horas perdidas em redes sociais e entretenimento raso e de baixa qualidade;

– ciclos emocionais repetitivos e drenantes;

– tentativas de provar valor através da aparência, estatuto ou produtividade.


Todas estas ações consomem o nosso Qi — a energia vital.

Desperdiçamos o nosso potencial espiritual em distrações que nos afastam de nós mesmos.


À medida que caminhamos rumo ao autocultivo, percebemos que certos ambientes, hábitos e até relações já não vibram na mesma frequência. É natural.

Podemos até sentir necessidade de deixar para trás algumas dinâmicas familiares, amizades ou padrões de vida. Não por rejeição, mas por fidelidade ao nosso processo.


O Dao transforma-nos. E, com essa transformação, virá também uma nova forma de estar no mundo.


Perguntas para contemplação


  • Em que áreas da tua vida estás a "andar em bicos de pés"?

  • Estás a forçar ou a permitir que o fluxo natural aconteça?

  • Há hábitos, pessoas ou atividades que te roubam energia, em vez de a nutrirem?


Prática meditativa: “Voltar ao Centro”

Pode ser feita sentada, com os pés bem apoiados no chão, ou em pé, na postura da montanha (Tadasana), para quem quiser sentir o corpo mais desperto e enraizado.


  • Introdução:

    Feche os olhos suavemente. Sinta o contacto do seu corpo com o chão. Inspire devagar… Expire lentamente... Deixe que o seu corpo se acomode no momento presente. Sem querer chegar a nenhum lugar. Sem se exibir, sem se apressar. Nada há para provar. Nada há para mostrar. Apenas estar.


  • Visualização:

    Imagine agora que está numa estrada larga. Ao seu redor, pessoas apressadas correm, empurram-se, falam alto, mostram o que têm, gritam por atenção. Você escolhe sair dessa estrada. Vira para um caminho mais estreito. Um trilho entre árvores, silencioso, fresco. Cada passo é simples, calmo, natural. Sente os pés em contacto com a terra. A sua respiração começa a encontrar o seu próprio ritmo. Estás em paz com o seu próprio passo... Lá à frente, vê uma árvore alta. Aproxima-se. Senta-se ou permanece de pé diante dela. Observa a forma como ela se mantém firme… sem precisar de exibir-se. Ela cresce em silêncio. Nutre-se em profundidade. Serve, sem se vangloriar.

    Agora, sinta as suas raízes a crescer. Visualize raízes a descerem dos seus pés para o solo. Respire. Com cada expiração, liberte o excesso: a pressa, o orgulho, a necessidade de reconhecimento, o medo de ficar para trás... Entregue tudo à terra.


  • Integração:

    Permaneça alguns instantes neste estado de presença simples. Apenas a respiração. Apenas o corpo. Apenas você, em harmonia com o Dao. E então, interiorize: “Quem se exibe, não brilha. Quem se apressa, tropeça. Quem força, desgasta-se. O caminho do meio é o caminho da permanência.”


  • Encerramento:

    Quando se sentir pronta, movimente lentamente o corpo. Rode os ombros, mexa os dedos. Abra os olhos com suavidade. Leve esta serenidade consigo para o seu dia. E sempre que sentir que está a cair no excesso… Lembre-se da árvore e volte ao seu centro.


(Pode assistir ao áudio da prática aqui e ao resumo desta publicação aqui!)


Bibliografia

Lao Tse (2010). Tao Te King - O livro do Caminho e do Bom Caminhar. Relógio D'Água Editores [Tradução e Comentários de António Miguel de Campos].

Towler, S. (2016). Practicing the Tao Te Ching - 81 Steps in the Way. Sounds True.

Texto revisto com OpenAI: ChatGPT [Software]. https://openai.com

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