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Retirar-se ou agir? A ilusão do isolamento e o chamado à compaixão em A Voz do Silêncio

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • 28 de mai.
  • 3 min de leitura

No segundo fragmento de A Voz do Silêncio, Helena Blavatsky rejeita explicitamente a ideia de que o isolamento extremo, a mortificação do corpo ou a fuga do mundo sejam caminhos espirituais válidos para quem busca a libertação. A obra, profundamente enraizada no ideal do Bodhisattva, propõe uma espiritualidade ativa, comprometida com o mundo e com o sofrimento humano.


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Mas o que significa, afinal, esta recusa do retiro como via principal? E será que devemos, necessariamente, concordar com ela?


A crítica ao isolamento como fuga

Para Blavatsky, abandonar o mundo não é sinónimo de maturidade espiritual — pode, pelo contrário, ser apenas uma forma de evasão. O texto é claro ao afirmar que:

“Não creias que sentando-te em florestas escuras, em orgulhosa reclusão, [...] isto te levará à meta da libertação final.”

Nesta perspetiva, o verdadeiro caminho espiritual realiza-se no contacto com a vida, com os outros, com as dores e alegrias do mundo. A prática isolada, sem aplicação compassiva, pode tornar-se uma forma disfarçada de egoísmo espiritual.


A ação compassiva como caminho de transformação

A Voz do Silêncio propõe que a libertação espiritual acontece através do serviço desinteressado. Não se trata apenas de fazer o bem aos outros, mas de nos transformarmos no próprio processo de agir com compaixão. A ação no mundo é apresentada como via de desenvolvimento interior:

  • Reconhecemos a interconexão: ao ajudar, percebemos que não somos seres separados.

  • Aprendemos pela experiência: cada desafio é uma oportunidade de desenvolver paciência, discernimento e empatia.

  • Transcendemos o ego: ao agir em nome de algo maior, libertamo-nos das exigências egocêntricas.


A analogia do arco e flecha

No entanto, esta crítica ao isolamento não deve ser lida como um desprezo pela interiorização. Assim como o arqueiro precisa recuar o arco para lançar a flecha, também nós precisamos de momentos de recolhimento antes de agir. Interiorizar é alinhar, concentrar, afinar a direção. A ação que se segue já não depende totalmente de nós — mas a qualidade dessa ação está enraizada na preparação interior.


O perigo está em confundir o recuar com fugir. O recolhimento pode ser sabedoria. A evasão, ilusão.


Outros caminhos são possíveis?

Apesar do foco do texto teosófico estar na renúncia ativa e no serviço ao mundo, não é necessário concluir que outras vias são inválidas. O universo espiritual é vasto, e não temos conhecimento suficiente para afirmar que o retiro contemplativo, a oração silenciosa ou a dedicação à vida monástica não sejam, também, formas válidas de serviço — mesmo que invisível aos olhos do mundo.


O que importa é a motivação:

  • Isolo-me para fugir ou para aprofundar-me?

  • Busco dominar o corpo por autodomínio ou por exibição?

  • Retiro-me da sociedade por medo ou por amor?


A compaixão pode servir de bússola para avaliar essas escolhas.


O serviço começa em nós: autocompaixão e discernimento

Servir o mundo não significa sacrificar-se até à exaustão. Proteger-se de ambientes tóxicos, reconhecer os próprios limites e recolher-se temporariamente são, por vezes, os atos mais compassivos que podemos oferecer — não apenas a nós, mas ao próprio mundo.


A humildade de reconhecer que nem sempre somos o que o mundo precisa naquele instante é, também, uma forma de sabedoria.


Em síntese

  • Blavatsky denuncia o isolamento como fuga, mortificação ou orgulho espiritual.

  • Enfatiza o serviço compassivo no mundo como verdadeiro caminho para a realização.

  • Recolhimento e ação não são opostos, mas etapas complementares de um movimento espiritual autêntico.

  • Outras vias podem ter valor, mesmo que não sejam o foco desta obra.

  • A compaixão é o barómetro: para agir, para recolher, para decidir.

  • O serviço começa em nós: através da autocompaixão e do discernimento.


A Voz do Silêncio convida-nos a viver com mais presença, mais discernimento e mais compaixão — não fugindo do mundo, mas penetrando nele com o coração desperto.


Bibliografia

Blavatsky, H.P. (1992). The voice of the silence translated and annotated by H. P. Blavatsky. Quest Books – Theosophical Publishing House.

Blavatsky, H.P. (2012). A Voz do Silêncio. Marcador Editora [Tradução de Fernando Pessoa]


Nota editorial

A revisão do texto contou com o apoio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), utilizada como assistente na clarificação de ideias, revisão linguística e organização de conteúdos. As imagens foram geradas por inteligência artificial (Freepik.com) e editadas para fins ilustrativos.

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