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Reflexão sobre o Capítulo 26 do Dao De Jing – As raízes do voo

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • 31 de mai.
  • 4 min de leitura

No capítulo 26 do Dao De Jing o Velho Mestre diz:


O pesado é a raiz do leve.

A serenidade é o senhor da agitação.


Por isso, a pessoa sábia, ao viajar,

não se afasta da sua origem.

Mesmo cercada de maravilhas,

permanece tranquila e não se distrai.

É como um senhor de mil carruagens:

a leveza e a pressa não a seduzem.


Quem se move com demasiada pressa

perde o enraizamento.

Quem age de forma precipitada

afasta-se de si e do seu centro.


Neste verso, o Velho Mestre convida-nos a contemplar a relação entre peso e leveza, entre quietude e movimento.

O "pesado" aqui não significa um fardo, mas sim o fundamento, a substância, a solidez, o enraizamento.

O "leve" é o que se move, o que se manifesta. Sem uma base sólida, o leve não tem onde se apoiar e dispersa-se.


Solala Towler cita Ho Shang Kung:

“As flores e as folhas das ervas e das árvores são leves — por isso são perecíveis. A raiz é pesada — por isso é duradoura.”

Aquilo que governa deve ser mais pesado do que aquilo que é governado, pois uma base de sustentação mais leve do que aquilo que suporta não pode oferecer estabilidade.


Do mesmo modo, só o que permanece sereno pode orientar o que se agita.

A serenidade - quietude ou calma interior - é a mestra que governa a agitação, o movimento e a ação.

Se a nossa mente está constantemente agitada, as nossas ações tornam-se caóticas, fragmentadas e ineficazes.

A verdadeira eficácia - e a verdadeira liberdade - vêm de um lugar de silêncio e centramento.


A quietude profunda é a matriz de onde brota o movimento. Este princípio está na base da meditação daoista, das práticas internas de alquimia, mas também de qualquer ação sábia no mundo.


Como viajantes espirituais, somos convidados a avançar sem perder o contacto com a nossa origem. Haverá belezas a contemplar e muitas distrações pelo caminho. No entanto, o verdadeiro caminheiro não se deixa desviar. Ele aprecia, contempla - mas mantém-se centrado. A sua âncora está dentro de si, na sua natureza fundamental - o Dao.


Laozi fala de alguém que, mesmo sendo como um “senhor de mil carruagens”, não se deixa seduzir nem carregar pelo peso do seu papel.

Aqui há uma lição de humildade e leveza: podemos assumir grandes responsabilidades, ocupar posições importantes, e ainda assim conservar a leveza de quem pisa suavemente a Terra.


As últimas frases deste capítulo são um aviso direto contra a ação impensada e o excesso de velocidade na vida.

Agir de forma apressada é perder a raiz. É afastar-se de si.

Perder o enraizamento é perder a ligação ao que é fundamental e sólido.

É como uma árvore sem raízes profundas — facilmente derrubada pela tempestade.


Afastar-se de si e do seu centro é o resultado final da pressa.

Quando agimos impulsivamente, estamos a reagir a estímulos externos ou a desejos superficiais, e não a operar a partir da nossa sabedoria inata e do nosso alinhamento com o Dao.


A imagem da árvore ajuda-nos a compreender: imaginamos os ramos, as folhas, os frutos — mas esquecemos que no subsolo há uma rede de raízes tão extensa quanto a copa visível.

São essas raízes, profundas e pesadas, que permitem à árvore manter-se firme perante os ventos.

E assim também nós: quanto mais fortes forem as nossas raízes, mais leves podemos ser no nosso viver.


É esta sabedoria que permite unir asas e raízes: só voa com segurança quem tem o dantian consolidado, quem cultiva dentro de si uma base firme.

Sem essa base, as experiências psíquicas podem fragmentar-nos, e as emoções dispersar-nos.

Com ela, podemos dançar a vida com leveza — mesmo quando o mundo nos confia mil carruagens para conduzir.


Práticas: Quietude no Movimento e Movimento na Quietude

Este ensinamento não é apenas uma filosofia contemplativa — é também uma via prática.

O cultivo da serenidade e do enraizamento pode ser desenvolvido através de dois caminhos complementares:


Cultivo do Dantian Inferior (Qigong)

O Dantian inferior é considerado o centro de energia e enraizamento no corpo, muitas vezes referido como o "campo de cinábrio" ou "mar de Qi".

O cultivo desta área através de práticas como o Qigong — movimento lento, respiração consciente e foco interno — é uma forma direta de fortalecer as raízes.

Ajuda a ancorar a energia, a solidificar o centro físico e energético, e a criar essa base "pesada" e estável que permite que as ações do quotidiano sejam eficazes e não dispersas.


É o movimento na quietude — porque, mesmo em movimento, o foco está na presença, na calma e no enraizamento interior.


Meditação (Sentar e Esquecer)

A meditação sentada, como a prática daoista de "Sentar e Esquecer", visa acalmar a agitação mental e emocional, permitindo que a sabedoria inata se manifeste.

Ao silenciar os ruídos internos, a mente torna-se o senhor da agitação, e a vida quotidiana passa a ser conduzida a partir de um centro estável.


É a quietude no movimento — pois a serenidade cultivada no silêncio estende-se à ação, tornando-a mais espontânea e menos reativa.


O Qigong, com os seus gestos fluidos, e a meditação, com o seu silêncio profundo, são dois caminhos que se entrelaçam.

Ambos fortalecem o centro. Ambos educam o espírito.

Ao integrá-los, cultivamos a resiliência, a clareza e a espontaneidade (zì rán).


Assim se torna possível caminhar como a pessoa sábia descrita por Laozi:

leve nos gestos, firme no coração;

aberta ao mundo, mas ancorada na origem;

conduzindo mil carruagens —

sem nunca perder o fio invisível que a liga ao Dao.


(Para complementar esta reflexão, faça a prática "Raízes silenciosas, centro estável"; e assista ao resumo desta publicação aqui!)


Bibliografia

Towler, S. (2016). Practicing the Tao Te Ching - 81 Steps in the Way. Sounds True.


Nota editorial

A revisão do texto contou com o apoio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), utilizada como assistente na clarificação de ideias, revisão linguística e organização de conteúdos.

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