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Yoga da Sabedoria: A Quarta Estância da Bhagavad Gita

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • 12 de abr.
  • 6 min de leitura

A Sabedoria Perdida que Renasce

Continuamos no campo de batalha... Krishna olha Arjuna e revela-lhe algo surpreendente. Conta-lhe que a ciência do yoga — uma sabedoria antiga sobre a autorrealização — já fora ensinada há muito tempo ao deus Sol (Surya), passando de geração em geração por grandes reis e sábios. Com o tempo, porém, esse conhecimento perdeu-se. E agora, Krishna a revelava novamente… a Arjuna, seu amigo e devoto.


Confuso, Arjuna questionou: “Como pode ser? Tu nasceste depois de Surya… como poderias ter sido seu mestre?”


Krishna então explicou que tanto ele como Arjuna já tinham vivido muitas vidas. Mas, ao contrário de Arjuna, Krishna lembrava-se de todas elas. Embora seja eterno e além do nascimento, Ele manifesta-se no mundo sempre que a justiça enfraquece e o caos se instala. Surge então para proteger os bons, eliminar o mal e restabelecer o dharma, a ordem cósmica.


Quem compreende o sentido espiritual do Seu nascimento e propósito, liberta-se do ciclo de renascimentos. Ao entregar-se sem medo, raiva ou apego, mergulhando no Amor divino, a alma desperta.


Krishna explica que muitos adoram deuses menores em busca de sucesso rápido, mas os frutos são temporários. Ele, no entanto, criou todo o sistema do mundo, inclusive as castas humanas, baseadas nas qualidades e ações — mesmo sendo o criador, permanece inatingido pelas ações.


Ele lembra Arjuna que deve cumprir o seu dever, como os sábios antigos, com sabedoria e sem apego aos resultados. Porque até mesmo os sábios se confundem com o que é agir e o que é não agir — por isso, é essencial compreender a verdadeira natureza da ação.


O Segredo dos Sábios

Os verdadeiros sábios sabem que, mesmo quando agem, a alma permanece imóvel, eterna. Agem sem desejo de recompensa, como uma oferenda ao Divino. Tornam-se serenos, autossuficientes, vivendo pelo bem maior, como um pai sábio que orienta o filho sem controlar-lhe o destino.


Quando há apego ao resultado — como um pai que impõe seus sonhos ao filho —, a ação já está manchada. Krishna ensina que, no fundo, tudo já nos pertence porque fazemos parte do Todo. Nada é “meu” ou “teu”. Tudo simplesmente é.


A pessoa sábia vê inação na ação e ação na inação. Vive em harmonia, sem vanglória, pois sabe que não é o ego quem age, mas o Divino que se expressa através do ser.


A Arte do Sacrifício

Muitas formas de sacrifício (ou oferenda) existem. Uns oferecem ações, outros os sentidos, o fôlego, a comida, o estudo, o autocontrolo — cada um à sua maneira busca purificar-se e unir-se ao divino. Quando se age com esta consciência, tudo se transforma: o próprio fogo da oferenda, o ato de oferecer e quem oferece — tudo é Brahma, a Alma eterna.


Krishna diz que a ação realizada com sabedoria é superior ao simples ato mecânico de doar bens. E essa sabedoria nasce do respeito pelos mestres, da investigação sincera e do serviço humilde.


A Libertação pela Sabedoria

Quando a verdadeira sabedoria floresce, a ilusão desaparece. Mesmo alguém que tenha cometido erros graves pode atravessar o oceano do sofrimento, guiado por esse conhecimento como por um barco seguro.


Tal como o fogo consome tudo o que toca, o conhecimento espiritual consome os desejos egoístas que prendem a alma. Não há purificação maior.


Mas atenção: quem duvida ou despreza este caminho não encontra paz nem neste mundo nem no outro. A dúvida constante, nascida da ignorância, é um obstáculo profundo.


Por isso, Krishna conclui com um apelo direto a Arjuna:

"Corta essa dúvida com a espada do conhecimento. Confia no teu Eu eterno e ergue-te para a ação, com coragem e fé.".



Yoga da Sabedoria: O Conhecimento que Liberta

No coração da 4.ª estância da Bhagavad Gita encontramos um ensinamento profundo e intemporal: o conhecimento verdadeiro — não apenas intelectual, mas vivencial — tem o poder de purificar, libertar e transformar a vida de quem o procura com sinceridade.


Neste diálogo sagrado entre Krishna e Arjuna, o Deus manifesta-se como mestre compassivo e revela que esta sabedoria já foi transmitida, desde tempos imemoriais, a reis e sábios. Com o tempo, porém, ela perdeu-se — como tantas vezes acontece — e precisa agora de ser reavivada.


Krishna explica que sempre que a virtude desaparece e a injustiça domina, Ele encarna no mundo como avatar, para proteger os justos, orientar os que se perderam e restaurar o equilíbrio. Os avatares não são apenas figuras históricas como Krishna ou Buda; são expressões do divino que podem manifestar-se em todos os seres e situações, sempre que a consciência desperta.


De qualquer forma que Me busquem, Eu os recebo. Todos os caminhos levam a Mim. (Bhagavad Gita, 4.11)

Esta frase desconstrói a ideia de que existe apenas um caminho certo para a espiritualidade. Para Krishna, o que importa não é o nome de Deus, a tradição ou o ritual — mas sim a sinceridade da busca e a nobreza do propósito.


Agir com Sabedoria, Não com Apego

Outro ensinamento central desta estância é sobre a ação sem apego. Krishna convida-nos a agir no mundo com entrega e discernimento, mas sem nos prendermos aos frutos do que fazemos. Agir por servir, não por conquistar. Agir como canal do divino, e não como proprietário do resultado.


Quando libertamos o desejo por recompensa e aprendemos a aceitar o que a vida traz, descobrimos um espaço interno de serenidade — uma alegria que não depende das circunstâncias. Esta sabedoria dissolve a ideia de “eu sou quem faz” e abre espaço para reconhecer: é o Divino que age através de mim.


Sacrifício é Entrega Amorosa

A palavra sacrifício aparece muitas vezes no texto, mas não com o sentido de sofrimento. Krishna fala de yajña como ação oferecida com amor, como forma de nos alinharmos com o todo. Doar tempo, estudar as escrituras, controlar os sentidos, respirar com consciência, cultivar a compaixão — tudo isso pode ser sacrifício, desde que feito com entrega interior.


A forma mais elevada de yajña é abdicar do desejo egoísta e dedicar tudo a Deus. É viver cada pensamento, cada ação, como uma oração silenciosa: “Seja feita a Tua vontade.”


Sobre Castas, Capacidades e Interdependência

Krishna aborda também a questão das castas, muitas vezes mal compreendida no Ocidente. Originalmente, esta divisão não era social nem rígida, mas uma forma de reconhecer os diferentes talentos naturais das pessoas — uns com inclinação para o conhecimento, outros para a proteção, o comércio ou o serviço. Cada função tem valor e nenhuma é superior à outra. Todos são necessários. Todos são interdependentes.


Quando esta ideia se degrada, nasce a discriminação. Mas na sua essência, o ensinamento é sobre agir em coerência com a nossa natureza e servir o mundo com aquilo que somos.


Desapego e Gratidão: As Chaves da Liberdade Interior

A Gita ensina-nos também a arte do contentamento: aceitar o que a vida traz com serenidade, sem esforço excessivo, e confiar que tudo serve um propósito maior. Quando conseguimos ver as perdas como mestres e os obstáculos como degraus, a alma começa a respirar mais leve.


Muitas vezes, os maiores sofrimentos vêm do apego a uma ideia fixa de sucesso. E ao forçar algo que já não serve, perdemos saúde, relações, e paz interior. A sabedoria está em saber quando agir, quando soltar, e como permanecer centrado em meio às oscilações da vida.


Conhecimento que Transforma: Pensar com Clareza, Sentir com Verdade

O verdadeiro conhecimento espiritual não é teórico, mas experiencial. É aquele que nos ajuda a ver para além das aparências, a desmontar ilusões, a encontrar as causas profundas do sofrimento e a agir com lucidez.


Krishna compara-o a um fogo que queima a ignorância e purifica a mente. A dúvida, o medo e o julgamento dissolvem-se quando vemos com os olhos da Alma.

Com a espada do conhecimento, corta a dúvida que reside no teu coração, e levanta-te, ó Arjuna. (Bhagavad Gita, 4.42)

Perguntas para Reflexão


  • Que ideias ou práticas herdadas ainda guiam as minhas ações — e quais já não fazem sentido para mim?

  • Tenho conseguido agir sem me prender ao resultado? Ou procuro reconhecimento, aprovação, sucesso?

  • Onde, na minha vida, posso transformar esforço em entrega?

  • Como lido com a diferença espiritual dos outros? Consigo ver verdade no caminho alheio?

  • Em que situações insisto em ser “o fazedor”? E se eu deixasse Deus agir através de mim?

  • Quais são as minhas formas preferidas de sacrifício? O que poderia oferecer de forma mais amorosa?


Que este ensinamento inspire uma forma mais leve, consciente e sagrada de viver — onde cada ação seja uma oferenda e cada gesto uma forma de sabedoria encarnada.


Se ressoou consigo, partilhe ou comente abaixo com as suas próprias reflexões — é um prazer crescer juntos.


Bibliografia

Feuerstein, G. e Feuerstein, B. (2015). Bhagavad-Gītā: uma nova tradução.  Editora Pensamento-Cultrix [tradução do inglês por Marcelo Brandão Cipolla].

Swami Chinmayananda (1996). Holy Geeta. Central Chinmaya Mission Trust [Comentários de Swami Chinmayananda].

Swami Sadashiva Tirtha (2007). Bhagavad Gita for Modern Times: Secrets to Attaining Inner Peace & Harmony. Sat Yuga Press.

Vyasa (2022). Bhagavadgita: O Canto do Bem-Aventurado. Edições Agnimile/Nova Acrópole [tradução do sânscrito e introdução por Ricardo Louro Martins].

Texto revisto com OpenAI: ChatGPT [https://openai.com]

Imagem criada com inteligência artificial generativa [freepik.com].

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